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terça-feira, 10 de maio de 2011

Almoço de Padre

Lá vem mais uma história da Coisinha.
Eu devia ter uns 12 ou 13 anos. Odeio, odiava cozinhar! Minha mãe havia feito uma cirurgia - nada grave- e já estava em casa. Era um domingo, mais precisamente, o segundo domingo daquele mês. Na cidade onde morávamos não havia padre. Havia sim, mas ele não morava lá, ia uma vez por mês a cada localidade atendida e na nossa igreja era sempre o segundo final de semana. Pároco no interior é gente importante, quase como o prefeito. Meu pai era tesoureiro da igreja. Ele e minha mãe eram ministros do casamento (realizavam cerimonias de casamento no quarto final de semana do mês), ou seja, eram bem amigos do padre, que, com seu status de celebridade sempre era convidado para almoçar na casa de alguém. Sempre não! Aquele domingo ninguém convidou. Justo aquele. Aquele em que a minha mãe estava de cama, se recuperando da cirurgia (nada grave, já disse). Ela não foi a missa. Eu não fui a missa. Meu pai foi a missa. E após a missa, meu pai foi falar com o padre.
- Oi Padre Máximo (ele era italiano e esse era o nome dele), tudo bem?
- Oi, tudo ótimo (o português dele era impecável). Será que posso ir almoçar na sua casa hoje? - Eles eram bem amigos, íntimos o suficiente para que o padre se oferecesse.
 Pausa reflexiva do meu pai - sua esposa estava acamada, tinha ficado em casa só, com sua filha de 12 ou 13 anos. Iriam comer as sobras do almoço de sábado que a empregada tinha feito, na verdade, iriam esquentar o almoço de sábado que a empregada tinha feito para comer no domingo, já que ela não trabalhava aos domingo, sua esposa estava acamada e sua filha não gostava de cozinhar. Restaurantes não eram uma opção naquele lugar.
- Padre, o senhor come o que eu comer? Perguntou o meu pai.
 O padre o olhou meio desconfiado. Que tipo de pergunta era aquela? Ele já havia almoçado lá em casa inúmeras vezes. A comida era boa, boa não, era ótima, sempre um banquete! respondeu:
- Como sim filho, lógico. Mas, qual o motivo da pergunta?
- Ah padre, é que minha esposa esta de cama (nada grave, de novo) e quem vai "fazer" o almoço é a Andreia.
- Sem problemas!
E foram...
Acordei domingo de manhã. Um domingo qualquer, qualquer não, tinha missa, mas eu não fui, tinha que ficar com a minha mãe que tinha feito uma cirurgia (nada grave viu?). Iria a missa a noite. Meu pai estava na missa. meus irmãos não estavam em casa (acho que estavam morando fora para estudar).
- Filha, a empregada fez comida a mais ontem, para que possamos almoçar hoje. Pega a comida na geladeira e põe no fogão para esquentar.
-O quêêêêêêêêê?????????? Aaaaaaaaaaaaah mãe, eu vou ter que cozinhar?
- Não filha, é só colocar no fogo, por um pouquinho de agua e esquentar.
Já disse que não tínhamos microondas naquela época? Pois é, não tínhamos. Não sei nem dizer se já existia microondas aqui.
Eu, de muita, mas muita má vontade mesmo, fiz o que ela mandou e coloquei as panelas no fogo. Só que, fui ver televisão. Tv aberta, domingo pela manhã, provavelmente nada de muito interessante, mas muito mais legal que vigiar as panelas no fogo. Resultado? Um cheirinho de queimado surgiu. Minhã mãe lá do quarto sentiu!
 - Filha, o que é esse cheiro aí??
Oh my God, corro pra cozinha e desligo tudo!
Barulho no portão. Muito barulho. Meu pai chegava com alguém. Peraí, conheço essa voz. Oh my God de novo! É o padre. Como é que o papai, sabendo que não ia ter almoço hoje tras o padre pra almoçar aqui????  Eu morria de vergonha. Minha mãe morria de vergonha.
Almoço servido, cheirinho de queimado, gostinho de queimado. O padre comeu tudo. Meu pai comeu tudo. eu quis morrer.
No final de tudo, minha mãe pede desculpas ao padre por aquele almoço mixuruca, e ele, tão querido responde:
- Não se preocupe minha querida, tudo o que é feito com amor é muito gostoso! Você está de parabéns Andreia.
Eu quis morrer, de novo!

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